Bacci ~ A propósito de Gatos... Reflexões sobre Gente


Apresento-vos a Bacci... um beijinho de vida, que recolhi em franco mau estado no ano passado.
Felizmente "Vingou", e presenteando-nos com a sua alegria e doçura! :)
Ela saltou da varanda em Belém, próximo Jardim Tropical/ Largo da Memória/ Estádio Belenenses, no dia 2 Setembro à noite), pelo que tenho-a procurado por todo o lado...
Não resisto a deixar aqui o repto:
A quem a viu, peço encarecidamente que me contacte, por telefone (960001176) ou email (margaridagsantos@gmail.com)!!!

A foto foi tirada quando tinha 9 meses, hoje com 1 ano e meio, está um pouquinho mais "pernalta", mas é de estatura pequena, "miúda"...

Com esta busca tenho observado muito, e aprendido muito...

...Sobre o meu mundo interno:
Esta busca tem sido um exercício interessante (ainda que doloroso), sobre a prática do desapego, e do exercicio da força da vontade sobre o estado emocional e mental... é tão estupidamente fácil ruir no inútil e destrutivo hábito da auto-comiseração, da preocupação...

Adoro aquele sábio provérbio oriental que diz:

Se tem resolução,
porque te preocupas?
Se não tem solução,
porque te preocupas?
Sem dúvida, a preocupação é um excelente exercício para desperdiçar energia!!
É difícil, mas necessário, este trabalho de observar sem julgar(!), mas fazendo-nos surdos àquelas "vozes enrugadas" mas pouco sábias, que nos alimentam hábitos estéreis e penosos!
Entre outros, alguns hábitos que tal:
- Já me fartei de sair de casa para procurar a gata... agora saio para encontrá-la!
- Se confio na Vida Mãe, no seu colo e leite morno... o que em mim resiste em Confiar(!) que a Bacci está sã e salva, independentemente do feedback externo?! Há que monitorizar-me para não reagir nem (ui!) julgar certos azedumes e preconceitos e atraccção sofrega por sangue e sofrimento.
Começa a ser vulgar o cumprimento:
- "bom dia, já encontrou a sua gatinha? Pois, por esta altura já morreu de certeza!!!" ou -"Ah, os ciganos mataram-na de certeza!!!" -Seguido por tentativas de descrever formas escabrosas para o efeito...
- Quero aceitar a vida de alma e coração... logo: Quero aceitar a morte com a igual receptividade!!!
- Sobre desapego, desejo, liberdade... Quero reencontrá-la! Mas reencontrarmo-nos é melhor para quem?!?
Busco, como reza a prece: aceitar a vida por inteiro, mudando o que precisa ser mudado, aceitando o que não pode ser mudado e tendo a sabedoria necessária para distinguir... (so help me God)
Não recordo quem o disse (foi citado pelo Nuno Michaels), mas subscrevo:
"Somos autorizados a ter preferências, mas não obsessões".
Pois a minha preferência é esta:

Encontrar (ou ser encontrada pel)a Bacci sã e salva!
Procuro, pergunto, divulgo... Atenta ao meu mundo interior, ao meu potencial criativo (construtivo e/ou destrutivo), à vida exterior... Atenta e grata pelas lições que a vida me oferece e às oportunidades de servir...
Lanço as minhas sementes, e confio-as à vida!
Que assim seja se contribuir para o nosso Bem Maior (e aqui entre nós, oxalá seja mesmo!! Tenho tantas saudades desta gata!!! risos).

Sobre o mundo exterior:

É incrivel como basta uma mudança na nossa vida para acrescentar um filtro complementar sobre o que absorvemos do meio, da vida... uma espécie de upgrade!
Uma amiga querida vai ter bebé - ena, tantas mulheres grávidas, tantos bebés! Vou comprar um carro de marca/cor x - ena, existem tantos! Estudo astrologia - ena, tanta gente a falar nisto!!
Quero encontrar a minha gata: ena, este é que é o "ecossistema felino" cá do sitio!!...
~ Claro que "sabia" que existem imensos "gatos vadios"... mas o meu "imensos" não incluia tantos!...
~ claro que "sabia" que existem várias pessoas que têm pena dos animais e os alimentam, abrigam... mas o meu "várias" não incluia tantas...
~ claro que "sabia" que existem pessoas que matam animais e os maltratam... recuzo-me a contá-los!

Um homem idoso abandonado ao seu banco de jardim, sedento de quem o ouvisse, deixou-se embalar pela sua necessidade de exorcisar as memórias que o assombram, sobre o momento da morte do seu gato, que ele matou porque roubava a comida da panela... Justificando-se, "confessando-se"... buscava compreensão exterior para o que ele próprio é incapaz de perdoar...
Preparava-se para descrever os pormenores mais macabros...
Não o permiti continuar, seria violentar-me naquele momento em que estava tão fragilizada.

Sinceramente sinto compaixão pela sua dor...
Todos nós já fizemos coisas de que não nos orgulhamos... E essas memórias são por vezes tão dolorosas, que nos assombram para o resto da vida e em vidas posteriores... se não nos apaziguamos... responsabilizando-nos pelo que fizemos... aprendendo com o os nossos erros, aceitando a dor das suas consequências!! E procurando ser e fazer melhor posteriormente!!!
Mas é tão vulgar sermos esses anjos caídos,
que se enredam na dor da culpa, como "eternos" vitimas ou réus...
sem coragem para desatar esses nós, e fazer rédeas desses fios, para se erguerem em novos voos, como é da nossa natureza...
E agora sim, fui visitar o canil/gatil (Monsanto) e tantos websites dedicados à ajuda e protecção animal - eis uma excelente listagem de links e contactos: http://www.adopta-me.org/resourcemain.php
Para quem resiste a adoptar um animal porque não sabe o que lhes há de fazer durante as férias (ou pondera abandoná-lo pelo mesmo motivo) existe o pet-sitting:

Pessoas que cuidam dos animais na sua casa, dão-lhes carinho e levam-nos à rua durante as suas férias.

Procure na sua zona... Este grupo de voluntários actua na Zona de Grande Lisboa: http://grupovoluntarios.hive-creations.com/main/index.php?option=com_content&task=view&id=126&Itemid=67 - Email: g.voluntarios@gmail.com - Tlm: 913 250 766.

Enquanto busco a Bacci, vejo e experiencio o que vulgarmente não veria e experienciaria... Espaços lindíssimos fora do "roteiro" ou vedados ao público (confesso que ando a divertir-me imenso com a minha veia irreverente, empunhando o folheto da Bacci como se fosse um escudo ou alibi). Falo com pessoas tão interessantes, tão fora da vulgar "norma"... níveis que desconhecia de conhecidos arquétipos...
E lá vou abrindo-me, cada vez mais, ao deslumbramento com um sorriso ou um gesto de uma enorme humanidade (no seu verdadeiro sentido), ou com o simples torneado de uma árvore ou farrapos de nuvens coloridas pelo ocaso... momentos de inspiração e alento!

Boas (velhas) novas sobre a humanidade:
Há mesmo pessoas que me telefonam porque viram um gato que pode ser a Bacci... Há mesmo pessoas que me levam a conhecer outras pessoas que julgam poder ajudar (literalmente, lá vamos nós bater-lhes á porta) ... Há mesmo pessoas que me convidam a entrar para espreitar os seus quintais... Há mesmo pessoas que se disponibilizam para palmilhar ruas e terrenos, fazendo-me companhia...
E ontem à tarde, ouvi miar, junto a uma garagem... um contínuo, desesperado e anónimo miar...
Um homem, de saida, diz-me que ouve aquele miar há 2 dias... Pareceu-me o miar de uma cria (logo não poderia ser a Bacci), mas convinha confirmar e "se já lá iam 2 dias" então ninguem parecia interessado em salvá-lo...
Outra pessoa explica-me que o acesso dependia de um tal Sr. Zé Maria, que voltaria ao fim do dia...
Voltei à noite, com a minha vizinha querida e tão prestável Virginia (a quem sou tão grata!), receosa de ouvir um azedo "isto lá são horas!?".
Somos recebidas por uma familia simples e com alguma rudeza nos modos...
O tal "sr. Zé Maria" era o mesmo que me havia dito que ouvia miar há 2 dias...
E a desformatação continua...
A disponibilidade foi imediata:
- o sr. Zé Maria salta a janela da vizinha, e espreita o telhado de zinco;
- mais leve, o filho trepa para o telhado de zinco, segue o miado localizando o "covil da fera";
- o pai vai buscar o escadote, vai à volta, levanta o telhado de zinco, mete-se dentro de um buraco (ninho vazio da gata, que aparentemente moveu a ninhada para outro sitio deixando este para trás) e ergue uma mão enluvada e triunfante, resgatando um gato que mais parecia um ratinho de tão pequenino;
- a filha segura-o, disfarçando a vontade enquanto pergunta à mãe se podem ficar com ele ("sei que não queres porque é preto");
- a mãe responde que "nem pensar" (explica que a nora vai ter bebé, e "há aquilo dos anticorpos") e dá-lhe leite com uma seringa, rindo por estar a pegar nele como quem dá de mamar a um bebé;
- a filha "refila" com ele para estar quieto enquanto limpa-lhe os olhos (tinha as pálpebras coladas) com água das rosas, com uma paciência infinita e orgulhosa por cumprir a sua missão, lavando-o então com "caricias de camomila" ("acho que te enganaste no curso, deverias ir para veterinária");
- a mãe "refila" com a filha para garantir que os olhos do animal não são lavados com o mesmo lado do cotonete;
- o pai desencanta a seringa, um caixote, e uma camisola aconxegante para o levarmos connosco, bem aninhado...
Daí a pouco a mãe desiste de resistir aos encantos do gato ("parece que vai ser mais pró acastanhado"), fica a filha responsável! Entre os risos e satisfação geral, os irmãos dão a "criança" a conhecer pela webcam da internet...
Uma familia cheia de ternura (muito) mal escondida... :)
Não sei se teriam feito o mesmo, ou se servimos de catalizador para este desfecho...
Mas foi soberbo ver uma familia inteira a mover-se com o mesmo fim:
resgatar aqueles "5 réis de gato"!
Talvez como quem abraça a oportunidade de corrigir qualquer coisa...
Aquele gato, agora entregue a tanta alegria e ternura,
teria morrido seguramente se persistissem nessa indiferença negligente.
É uma benção lembrar que todos os dias, a toda a hora, neste "eterno presente"...
podemos observar o Divino em tudo e todos à nossa volta e em nós próprios
Se sairmos do nosso auto-envolvimento.

PS(Vale a pena partilhar a Boa Nova: Passados 16 dias e em boa hora encontramo-nos! :-D)

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